Um dos motivos de Praia Grande ter uma Saúde da Família referência no território nacional é devido aos seus dois Programas de Residência: Médica e Multiprofissional. Ambos são voltados para o atendimento da população na ponta, nos bairros, dentro das Unidades de Saúde da Família (Usafas), encorpando o corpo de profissionais que promovem um atendimento de qualidade, que resolve a maioria dos problemas do paciente no próprio território.
Os Programas de Residência do Município são cursos de pós-graduação com a duração de dois anos que contam com atividades teóricas e práticas e formam profissionais especializados na área Médica e Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade. Ambos são habilitados tanto pelo Ministério da Educação quanto da Saúde, mesmo a Cidade não tendo uma instituição de ensino superior vinculada a essas áreas. Isso porque, o perfil acadêmico dos profissionais, muitos professores, mestres e doutores em suas áreas, permite que seja integrado o ensino junto ao serviço. Dessa forma, os residentes, de diversas especialidades, conseguem aprender a fundo diversos aspectos do atendimento dentro do âmbito da Estratégia de Saúde da Família (ESF) e do Sistema Único de Saúde (SUS), ao mesmo tempo em que trabalham e cuidam da comunidade.
Implantado em 2016, o Programa de Residência Médica em Medicina de Família e Comunidade foi o primeiro de Praia Grande. No ano seguinte foi a vez da implantação do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade. De lá para cá foram formados 216 profissionais, sendo: 101 médicos, 46 dentistas, 44 enfermeiros, 17 fisioterapeutas e 11 psicólogos. Um novo grupo está finalizando a residência no começo do próximo ano, com profissionais que vêm de diversas localidades do país em busca do que Praia Grande tem a oferecer na saúde e na cidade como um todo.
“A estrutura que Praia Grande possui em sua rede municipal de saúde, uma rede organizada, aliada à qualificação dos nossos profissionais, atrai muitos profissionais de todo o país para virem para cá. E nosso objetivo com esses programas é qualificar esses profissionais de saúde, fixar esses residentes no Município, fazer com que eles tenham um vínculo com a comunidade, já que em Praia Grande o foco é a saúde preventiva e temos 100% de cobertura na Estratégia de Saúde da Família (ESF). E isso tudo faz com que o Município melhore a assistência à população, otimize recursos e evite problemas de saúde mais complexos, atendendo a grande maioria dos problemas já a partir da Atenção Primária”, destaca o secretário de Saúde Cleber Suckow Nogueira.
Médica –A Residência Médica é uma boa oportunidade de o profissional aprofundar seus conhecimentos a partir desta especialização, aprendendo muitos aspectos relacionados ao atendimento à população e ao SUS. Os residentes são acompanhados nas unidades por médicos preceptores, o que garante um ambiente mais adequado para o ensino e aprendizado. E além das 40 horas semanais de atividades práticas nas unidades, os residentes também se dedicam 20 horas por semana em outros estágios e aulas teóricas com tutores da rede.
Em Praia Grande, a Residência Médica acontece em 13 unidades-escola. E o Município reúne características únicas que o fazem destacar na saúde e na residência. “Praia Grande é diferenciada para fazer o Programa de Residência Médica por ser um município muito jovem, que começou a crescer praticamente com o SUS, a gente pôde construir um sistema de saúde do jeito que o SUS trouxe, ou seja, organizando em Atenção Primária, Secundária e Terciária. São raros os municípios grandes como a Praia Grande, com 350 mil habitantes, que têm 100% de cobertura em Atenção Primária em Estratégia de Saúde da Família. É um município muito diferenciado nesse sentido, que tem unidades novas, com excelente estrutura e com todas as categorias profissionais necessárias para a Saúde da Família”, afirma o médico Ernesto Dallaverde Junior, coordenador da Comissão de Residência Médica do Município.
Com a oferta de 30 vagas anuais, a Residência Médica é uma das maiores do Estado. E atrai profissionais de várias regiões do Brasil, por vários motivos. “As condições boas do Município, os preceptores experientes, a complementação de bolsa para moradia e alimentação oferecida por Praia Grande na Residência Médica – e que muitos programas semelhantes não oferecem – são algumas das principais razões para termos uma grande procura aqui. Por exemplo, a bolsa municipal para os médicos é mais de 100% da bolsa do ministério”, explica Dallaverde.
A médica Marcela Ruiz veio de Santa Fé do Sul, no interior paulista, para fazer o curso de especialização em Praia Grande. “Eu optei em fazer residência aqui porque ouvi falar muito bem, conhecia pessoas que faziam o programa e me atraiu a Atenção Primária. Quando cheguei aqui eu gostei da Cidade e do programa, estou surpresa com o volume de informação que a gente aprende, como é importante a gente ver o funcionamento do SUS. Estou adorando”.
Marcela está no primeiro ano da residência e tem atuado na Usafa Samambaia. “Tem agregado muito à minha formação, temos uma troca muito interessante com a população, tem a criação de vínculo que é a proposta da Atenção Primária, então, pessoalmente e profissionalmente agrega muito, esse cuidado continuado e a cada estágio que a gente passa, acrescenta mais informações, tanto sobre a medicina quanto sobre o funcionamento do SUS”.
Todo esse trabalho realizado pela Secretaria de Saúde Pública (Sesap) praia-grandense faz com que muitas pessoas queiram permanecer na Cidade após o término da residência. É o caso da médica Maria Caroline Rossi de Sousa, que veio de Mauá, na Grande São Paulo, e está no primeiro ano da especialização tendo como base a Usafa Santa Marina. “Eu quero muito ficar, a cidade é maravilhosa, já estou praticando esporte, faço um monte de coisa, fiz vários amigos, estou amando. Minha mãe é diabética, teve insuficiência renal há dois anos, quase morreu, e ao vir para cá ela apresentou uma melhora na saúde dela que não dá nem para acreditar. A gente está vivendo muito bem na cidade, uma qualidade de vida ótima que a gente não tinha onde morava, então, não quero ir embora para outro lugar”.
Multiprofissional –A Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade atualmente está disponível em Praia Grande nas áreas de enfermagem, fisioterapia, odontologia e psicologia. Hoje, 16 Usafas são beneficiadas com essa residência. E por ser vinculado ao SUS e à Atenção Primária, principal porta de entrada para o paciente, o programa proporciona ao profissional uma maior bagagem de experiência nesse atendimento ao público. Ao término dos dois anos de especialização, os residentes se tornam capacitados para atuar na Atenção Primária dentro do campo multiprofissional e no atendimento à comunidade. Ao mesmo tempo, esses residentes trabalham, sob orientação dos profissionais preceptores, dentro das Usafas, qualificando ainda mais a assistência à população no território.
“Você traz diferentes categorias profissionais para trabalhar no mesmo nível de complexidade que é a Atenção Primária, você entende a complexidade de trabalhar o processo saúde-doença das pessoas não de forma dicotomizada, mas tendo um olhar como um todo daquele paciente em todas as interfaces que ele está precisando naquele momento. Claro que nem todo paciente vai precisar de todo o cuidado, da fisioterapia, psicologia, odontologia e enfermagem, mas juntos eles conseguem traçar planos de cuidados para aquelas pessoas com diferentes saberes, mas com o mesmo objetivo. E estando juntos em uma mesma unidade conhecem o perfil da comunidade, conhecem a melhor forma de proceder com as condutas e manter a acompanhamento do paciente ao longo do tempo”, enfatiza a enfermeira Bruna Renó, coordenadora da Residência Multiprofissional e subsecretária de Atenção à Saúde.
“Hoje Praia Grande tem uma estrutura que é referência no atendimento do serviço público, das unidades de saúde no formato de Estratégia de Saúde da Família, que hoje é a estratégia adotada pelo Ministério da Saúde para a melhora dos indicadores de saúde e do impacto que isso proporciona na saúde da população. Então, o Município consegue prover essa estrutura e através dela as pessoas têm experiências e oportunidades de aprendizado que viabilizam profissionais qualificados e, com isso, ocorre uma melhoria da assistência à população”, complementa a subsecretária.
E essa jornada pela Atenção Primária no SUS tem sido muito enriquecedora para a cirurgiã-dentista Gabriela Grilo dos Santos, que está no segundo ano da pós-graduação. Vinculada à Usafa Antártica, a profissional comenta que o conhecimento do SUS e a parte técnica têm sido muito proveitosos. “Eu mesma não tive nenhuma matéria sobre o SUS na faculdade, então tudo que eu aprendi foi na residência. Além disso, a gente sai muito cru na faculdade na parte técnica, de clinicar, atender e na residência a gente aprende como fazer os procedimentos, orientada pelo preceptor, e isso é bom para ‘pegar mão’, aprender técnicas diferentes para fazer o atendimento”.
Paulistana de nascimento, Gabriela observou na experiência que a estrutura de saúde de Praia Grande não deve nada em relação à capital paulista. Pelo contrário. “Posso dizer que a estrutura de saúde é muito melhor que São Paulo, é mais fácil o acesso, ir ao posto e conseguir um dentista, conseguir um atendimento médico no dia por conta do Acesso Avançado, então, a saúde na Praia Grande é muito boa e isso contribui muito para o nosso aprendizado. A rede se comunica, a Usafa tem contato com o Serviço de Atenção Domiciliar (SAD), que tem contato com o Centro de Atenção Psicossocial (Caps), e essa rede auxilia muito no nosso aprendizado, é uma rede que funciona realmente”.